TATIANA DINIZ
da Folha de S.Paulo
Medo, orgulho, estranheza, tranqüilidade, paz. Um leque de sentimentos diversos costuma acompanhar a chegada da velhice. Alguns deles se tornarão determinantes, fazendo com que essa etapa da vida seja encarada com naturalidade por uns e com receio por outros.
Numa época de prateleiras lotadas de cosméticos que prometem apagar os traços da idade, de pílulas que sugerem a retomada do vigor sexual da juventude, de cirurgias que esculpem corpos e rostos para que vençam o tempo, o que passou a significar, afinal, envelhecer?
Bruno Miranda/Folha Imagem
Daphinis de Lauro, 82, que há 15 anos pratica natação e faz alongamento diariamente
De um lado, autores ancorados em inovações tecnológicas anunciam que, num tempo não muito distante, será possível recorrer a milhares de ferramentas para driblar o envelhecimento e sua indesejável "decrepitude". Do outro, geriatras enfatizam que não há fórmula nenhuma que permita não envelhecer e que, portanto, o melhor caminho a ser trilhado é manter a preocupação de simplesmente envelhecer bem.
No meio das duas correntes, fios de cabelos brancos despontam numa geração de homens e mulheres que se deparam com uma expectativa de vida cada vez maior. E, em busca de atalhos para alcançar a satisfação naquela que tradicionalmente ficou conhecida como "a idade da sabedoria", não são poucos os riscos de se deparar com promessas infundadas e com muito charlatanismo.
De técnicas de estética e dicas de dieta a crenças populares, a Folha ouviu especialistas que comentaram 15 truques de "eterna juventude" para esclarecer se funcionam ou não.
ISSO REJUVENESCE?
1. Vitamina C
Não. Assim como todas a vitaminas, a C faz parte de um complexo que protege da ação dos radicais livres --causadores das doenças degenerativas. A suplementação vitamínica previne distúrbios, mas a ingestão isolada ou exagerada de uma vitamina pode fazer mal. No caso da vitamina C, o excesso predispõe ao surgimento de cálculos renais. Já o uso tópico de vitamina C de fato combate o envelhecimento da pele
2. Reposição Hormonal
Não. Embora a maioria das mulheres que não iniciam a reposição nos primeiros cinco anos de menopausa apresentem um envelhecimento mais acelerado do que aquelas que iniciam, é bom saber que a reposição hormonal não é um método para "frear" o envelhecimento nem é recomendada a todos. Cerca de 80% das mulheres precisam de reposição hormonal, 20% não. Já entre os homens, apenas 30% devem recorrer ao método
3. Ioga
Sim. A prática incrementa a flexibilidade da coluna, que tende a ficar mais rígida com o passar dos anos. O aspecto de juventude está muito ligado à mobilidade, e quem tem a coluna mais flexível está mais apto continuar usando o corpo como quer --para dirigir ou para amarrar os próprios sapatos, por exemplo. As posturas inversas (feitas com a cabeça abaixo do coração) beneficiam a pele, e os exercícios de respiração melhoram o humor
4. Leite de soja
Não. Substâncias contidas na soja que são consideradas fito-hormônios e usadas em tratamentos dos sintomas indesejados da menopausa têm, em geral, ação preventiva ao envelhecimento. Porém, a eficiência do consumo depende da forma como ele ocorre na dieta. Quem come soja a vida inteira se beneficia das propriedades dela. Já quem começa a beber um copo diário de leite de soja aos 50 anos só está se enganando
5. Tomate
Não. O tomate contém licopeno, um agente antioxidante que, quando consumido regularmente, contribui para a prevenção dos processos degenerativos que caracterizam o envelhecimento. Mas é preciso comer tomate todo dia por muitos anos para que isso faça diferença, e a eficiência dessa contribuição alimentar ainda não foi mesurada por nenhum estudo científico. Manter uma dieta balanceada já é uma atitude preventiva
6. Qualidade de vida
Sim. Quem evita trabalhar de segunda a segunda se protege do envelhecimento acelerado. A razão é simples: essas pessoas costumam assumir também posturas preventivas de saúde, encontrando tempo para praticar atividades físicas, combatendo o estresse, alimentando-se melhor e não se privando de horas de sono. Costumam também aderir à medicina de prevenção, cuidando-se antes de os problemas acontecerem
7. Cápsulas rejuvenescedoras da pele
Não. Também conhecidas como "pílulas da beleza", as versões mais recentes dessas cápsulas são o Inneov e o Reage, que devem chegar ao Brasil nos próximos anos e prometem rejuvenescimento mais eficiente da pele ao ingeri-las. Mas o que os estudos apontam é que, para combater o envelhecimento da pele, a aplicação tópica de substâncias como o ácido retinóico e a vitamina C tem efeito superior do que a ingestão de remédios
8. Demae
Não. O efeito do Demae (Dimetil-aminoetanol) é cosmético. Após aplicá-lo, as células sofrem uma contratura, que se torna perceptível em 20 minutos. Obtida do salmão, a substância surgiu como suplemento nutricional homeopático para portadores de doenças degenerativas neurológicas e crianças com déficit de atenção e observou-se que gerava contratura da musculatura cervical. Não atua como tratamento, e sim como um coadjuvante
9. Dormir muito
Não. Ao contrário do que muitos pensam, quem dorme muitas horas por noite não mantém a aparência mais jovem por isso. De acordo com os especialistas, mais importante do que dormir muito é dormir bem. Quem acorda várias vezes durante a noite, tem pesadelos, apnéia e costuma levantar cansado, não está dormindo bem. Pessoas ansiosas tendem a ter esse tipo de sono. Desse jeito não adianta dormir dez horas por dia
ISSO ENVELHECE?
10. Preocupação
Não. A máxima popular de que preocupação dá rugas e cabelos brancos não tem fundamento científico, afirmam os especialistas. Para eles, não há relação direta entre excesso de preocupação e aparecimento precoce desses sinais: o branqueamento dos pelos está mais ligado à predisposição genética, e as rugas têm relação com a exposição solar e as expressões faciais. O que se sabe é que o estresse, de maneira geral, leva ao envelhecimento indireto
11. Predisposição genética
Sim. A genética é um componente determinante na manifestação dos sinais do tempo, mas não é o único. Ela se soma a heranças ambientais, como o estilo de vida, a exposição solar e a dieta. Acredita-se que, no futuro, uma ciência batizada de nutrogenômica permitirá contornar a ação específica dos genes a partir da alimentação. Comeremos determinado alimento por recomendação médica para inibir a ação da herança genética
12. Sol
Sim. O efeito envelhecedor da exposição solar inadequada é comprovado e reconhecido. Os raios solares promovem alterações tão sérias nas células da pele que, quando examinadas microscopicamente, chegam a apresentar aparência de 15 anos a mais que a idade real, e podem levar a estágios précancerosos. Vale lembrar, porém, que tomar sol é importante na prevenção de doenças como a osteoporose
13. Cigarro
Sim. Além do risco cancerígeno, as diversas substâncias tóxicas presentes no cigarro têm forte efeito oxidante e aceleram o envelhecimento do organismo, degradando células e dificultando uma série de reações corriqueiras no corpo. Assim, embora se fale muito do aspecto envelhecido da pele dos fumantes, os especialistas alertam para o envelhecimento orgânico causado pelo cigarro, que é ainda mais perigoso
14. Dietas calóricas
Sim. Essa é uma das informações mais bem-definidas pela ciência em relação ao envelhecimento até agora: dietas baseadas na restrição calórica de fato fazem com que os seres vivos envelheçam mais devagar. Descobertas recentes comprovam que o envelhecimento é um processo inflamatório microscópico de células, e que o consumo elevado e contínuo de calorias leva o organismo a produzir mais substâncias inflamatórias naturais
15. Sedentarismo
Sim. A partir dos 40 anos, quem não faz atividade física perde gradativamente a força muscular e a flexibilidade. Conseqüentemente, corre mais risco de desenvolver doenças como osteoporose e artrose. Mesmo para que foi sedentário durante toda a vida, nunca é tarde para começar. Os benefícios do exercício são perceptíveis: as articulações se tornam mais lubrificadas e ganha-se mais mobilidade nas tarefas cotidianas
Fontes: CLÁUDIA FERNANDES, professora de educação física, fisioterapeuta e coordenadora do programa de exercícios Melhor Idade, em São Paulo; NICOLE WITEK, consultora de ioga e professora do Espaço Respire Yoga, em São Paulo; MÔNICA AZULAY, professora de dermatologia e responsável pelo setor de dermatologia cosmética da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro); RICARDO SPILBORGHS, clínico-geral pela Escola Paulista de Medicina e especialista em geriatria; WILMAR ACCURSIO, endocrinologista e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Anti-Envelhecimento
extraído de: http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u4218.shtml